TERRA MATER
Carpe Diem
A valorização do saber fazer tradicional, para além da sua preservação e reconhecimento, passa também pela produção de novos objectos, procurando diferentes utilidades e funções, novas abordagens estéticas e formais. A possibilidade de construir espaços de partilha e de exploração de novas ideias, são importantes enquanto processos inovadores para o desenvolvimento da produção artesanal de base tradicional e muitíssimo importantes para quem, como eu, procura conhecer melhor as matrizes, os materiais e as contingências associadas à produção artesanal genuína de certos locais. A incorporação deste pulsar no meu caminho, marca de forma indelével as opções estéticas e produtivas das minhas peças, impregnando-as de uma linguagem única e telúrica.
Tudo começa no papel
As imagens vão surgindo constantemente, costumo regista-las nos meu blocos dos quais sou inseparável, adoro blocos. Normalmente risco com grafite, outras vezes com feltros ou esferográfica. Gosto do impulso do riscar, da liberdade do traço, dos períodos de meditação que antecedem e conduzem à forma. Sentada na varanda à sombra, com as árvores dançando em frente e os pássaros na sua azáfama, consigo desligar-me das preocupações do dia-adia e dar largas à imaginação. As rotinas e os ritmos diários são muito absorventes, impõem-se e reclamam tempo, conseguir espaço para criar e produzir é uma aventura, mas a contrapartida é extremamente gratificante. Ver os desenhos sair do papel e transformarem-se nos protótipos que vou moldando fazem-me sentir que todo o esforço e luta valem apena. Desde que me lembro as minhas mãos têm vida própria, como se o impulso do fazer fosse autónomo. Sempre ocupadas na produção de algo, sempre à procura de novos desafios criativos. Formei-me em arquitetura e especializei-me em património, o destino estava traçado, o interesse pelo saber fazer encontrou eco e ganhou espaço. No entretanto fiz formação técnica em ourivesaria, ouro e prata, mas o espaço para a dedicação não surgiu nessa altura. O tempo tem os seus mistérios. Tive que esperar por Cabo Verde, onde estou há 10 anos, para conseguir voltar ao meu universo da produção artesanal. Com isso nasceu o projecto Dez Grãozinhos di Terra, que agora se apresenta como uma das principais razões para continuar a produzir. Nasceram parcerias, colaborações e uma enorme vontade de explorar as diversas linguagem que a terra proporciona. Tem sido uma aventura saborosa, “Sabi” como se diz em Crioulo, que se entranhou e passou a fazer parte de mim. Seja onde estiver, estes dez grãozinhos de terra ( as ilhas de Cabo Verde ), estarão para sempre ligadas ao meu coração.

Aprender, aprender...voltar a aprender.
Trabalhar com cerâmica é um processo complexo, repleto de tentativas e erros, sem os quais, não surge evolução. O impulso de fazer tem que superar todas as adversidades, só assim continuamos. Acreditar tem que ser a palavra-chave. Acreditar e ter a disposição e a humildade para aprender com quem sabe fazer. Sem transmissão de conhecimento não há aprendizagem, sem vontade de aprender não há mestre que consiga ensinar. Como na vida, para receber é preciso dar, se não preenchermos essa condição, dificilmente progredimos e sem progressão não há prazer como compensação. Para manter a chama viva e continuar a produzir, acima de tudo é preciso amar.


Colecção Balaio
Carpe Diem
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